Para uma melhor experiência sensorial do álbum, sugerimos que a audição seja acompanhada da observação de cada tela produzida.
Leia abaixo a introdução e tenha uma ótima audição!
Saudação
O infinito não é compreendido pelos humanos senão através da abstração, pois, nascemos e percebemos a vida a partir de nossa ótica do finito na qual a nossa vida está ligada, do dia do nascimento ao dia da morte, claramente um começo e um fim. Continuamos elaborando esse período finito em outros recortes cíclicos que nos ajudam a contar e estabelecer seus limites.
Mas se nos afastarmos, o finito é apenas uma partícula, um ponto no contínuo fluir. Talvez tenha tido um início algum dia, mas nós não podemos vê-lo ou pressupor algo sobre o seu acontecimento. Bem como a existência ou não de um fim, que é elaborado de muitas formas despertando pertencimento e sentido na caminhada da existência.
Esse álbum trata de um recorte nesse contínuo, uma imersão em um universo sonoro e imagético onde um personagem fictício nos empresta o cíclo do seu dia para contar seus anseios, tristezas e as belezas através de sons.
É o reconhecimento da nossa condição cíclica, onde fazemos uma “Saudação” e aceitamos do que não podemos controlar.
Um mergulho no infinito do finito humano.

“Despertar” é a representação do começo de um ciclo, um ponto inicial e ainda parte do contínuo. Sem um tempo definido ou métrica, apenas o fluir e o nascimento.

“Dormindo na Caçamba” é baseado no ritmo de Côco e representa a sensação de constante movimentação, o trajeto, a resignação no caminhar e a esperança.

“O trabalho” é uma homenagem ao ritmo Ijèxá e representa o movimento cíclico na repetição laboral, o sentimento de pertencimento e as dificuldades do trabalhador.

“A Feira” é uma homenagem livremente baseada no festejo de bumba meu boi, representa a feira onde vendemos nossas cabeças e somos abatidos consumidos pela rotina de nossas vidas. Trata do peso do fardo e da certeza do abate desde o início, mas também o renascimento e a transcendência após cada queda.

“Caiu do Balaio” é inspirado no ritmo de Maracatu em um compasso de 7/4. Representa o tombo, como se algo caísse de uma cesta e rolasse passando pelos vários momentos nessa jornada na vida, suas surpresas e desencantos.

“Reencontro” é inspirado no ritmo tradicional Iorùbá chamado Alùjá, ligado ao orisá Sàngó, representando a justiça, as conquistas e a perseverança na escrita do seu próprio destino. É também a compreensão do ciclo se fechando, um momento reflexivo de se reconectar com sigo mesmo e com o universo.

“Crepúsculo” é o encontro do fim com o início, a morte do dia até o novo amanhecer onde tudo se repetirá infinitamente.
A melodia utilizada na composição é idêntica à primeira faixa “Despertar” em movimento retrógrado, representando o fechamento do ciclo em comunhão.